Entrevista ao vencedor dos Prémios EmpreendedorXXI na categoria de Ciências da Vida

13/04/2018

Devido à resistência aos antibióticos, verificam-se cerca de 50 000 mortes por ano, na Europa e nos Estados Unidos, e estima-se que em 2050 o número de mortes em todo o mundo seja de 10 milhões, mais do que o número de mortes provocadas pelo cancro. É o que nos explica Bruno Santos, CEO da Immunethep, uma startup biotecnológica (Spin-off da Universidade do Porto). A empresa portuguesa venceu os Prémios EmpreendedorXXI na categoria de Ciências da Vida.

O que faz a Immunethep?

Na Immunethep desenvolvemos imunoterapias antibacterianas com base num mecanismo de virulência que é comum a cinco das principais bactérias patogénicas que causam a pneumonia, a meningite e a sépsis.

Temos dois projetos em estado mais avançado. O primeiro é uma vacina para prevenir infeções de cinco bactérias, que já está pronta para começarmos os ensaios clínicos. O segundo projeto é a produção de anticorpos contra as mesmas infeções, que podem ser utilizados preventivamente ou de forma terapêutica.

Qual é a origem da empresa?

As bases da empresa surgem do conhecimento gerado durante quase 30 anos por uma das área de investigação da Universidade do Porto. No entanto, até 2011, os principais resultados dessa investigação estavam longe de constituir uma oferta de valor tangível no mercado. Foi nessa altura que a Venture Catalysts, uma empresa portuguesa que desenvolve projetos de negócio de base científica, e Pedro Madureira começaram a trabalhar juntos. Chegaram a um acordo para criar a Immunethep em 2014 e negociar a licença da patente exclusiva global com a Universidade do Porto.

Como avaliam esta etapa empresarial?

Damos muito valor àquilo que conseguimos até hoje. Uma startup tem o desafio de desenvolver novos produtos de alcance mundial com muito menos recursos (financeiros, humanos, em termos de infraestruturas, etc.) do que as grandes empresas. Isto implica, para além de todas as atividades diárias, concentrar esforços no sentido de conseguir o investimento necessário para atingir as nossas metas.

Que dificuldades tiveram de ultrapassar durante estes anos?

Uma empresa de base científica, devido à sua complexidade, depara-se com várias barreiras que temos de ultrapassar. Ao nível da comunicação, temos de nos certificar de que os diferentes stakeholders (utentes, clínicos, investidores...) entendam a proposta de base científica materializada numa proposta de valor tangível. Além disso, ter uma estratégia de propriedade intelectual é essencial, principalmente no setor de atividade da Immunethep. A credibilidade é outro aspeto a destacar, uma vez que o desenvolvimento de um produto baseado numa tecnologia nova é difícil, particularmente numa indústria tão regulada como a farmacêutica.

Contar com pessoas com as características necessárias para o longo e difícil caminho de uma startup de base científica é, possivelmente, o obstáculo e, ao mesmo tempo, o fator de sucesso mais importante.

Que conselhos daria a outros empreendedores?

Que façam algo que realmente os apaixone, que comecem o mais rapidamente possível e que encontrem sócios que partilhem da mesma visão e complementem as suas capacidades técnicas e experiência.

Que projetos têm?

Os nossos esforços estão concentrados no início dos ensaios clínicos para o primeiro produto - a vacina - e no desenvolvimento dos ensaios pré-clínicos para o segundo produto - os anticorpos. Para isso, procuramos um investimento de 15 milhões de euros para um plano de execução que contempla os próximos três anos.

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